Nada mais justo que eu vá curtir a um bom show, justamente no dia escolhido para se celebrar oficialmente o Dia do Rock. E na verdade foram três shows...
Foi a festa do excelente programa "Pop Rock Brasil", da rádio carioca MPM FM (90,3), transmitido nas noites de sábado, com o melhor do Rock nacional de todas as épocas, com destaque merecido para os Anos 80, período de ouro do Pop Rock brasileiro.
O evento aconteceu na Fundição Progresso (Lapa) e contou com três importantes bandas do cenário oitentista: Paralamas do Sucesso, Biquini Cavadão e Plebe Rude.
Os primeiros a se apresentarem foram os Paralamas, um dos raros grupos que conseguiu se manter em evidências durante as suas três décadas de existência, mesmo depois do terrível acidente de Herbert Vianna.
Os Paralamas já na abertura colocaram todos pra pular, com a instrumental "Vulcão Dub", com seus metais em brasa e com Barone já mostrando serviço. Emendando com "Alagados", colocaram a platéia no bolso.
O show fez parte da turnê de comemoração de 30 Anos dos Paralamas, e o repertório privilegia canções tocadas no formato trio, e resgata pérolas do início da carreira, como "Patrulha Noturna", "Cinema Mudo" e "Selvagem" e "Mensagem de Amor".
Herbert ainda tem pequenos lapsos, como perguntar por várias vezes ao público se o som está bom e pedir que batam palmas para a equipe técnica; ou quando se enrola e perde o andamento do Riff clássico do Led Zeppelin em "Whole Lotta Love" (que é emendada com "O Calire), sendo salvo pelos colegas Bi e Barone, que percebem a confusão e conseguem por ordem na casa. Mas ele demonstra dicção perfeita, melhor até do que o período pré-acidente; e nas baladas "Romance Ideal" e "Lanterna dos Afogados" prova em solos perfeitos e cheios de feeleings, que sua pegada na guitarra continua inabalável.
Não quero ser repetitivo nas resenhas, mas poder ver João Barone em ação é sempre uma aula de bateria. Bom gosto, firmeza, precisão, técnica, arrojo e suingue, Barone toca com tanta simplicidade que dá a impressão de que é fácil. Acreditem: não é! Exceto pra ele.
Bi Ribeiro é discreto na sua função importantíssima de âncora e catalizador da banda. Seu baixo gravíssimo é uma das marcas registradas dos Paralamas.
O mais bacana é que os três amigos, juntamente com o tecladista e parceiro de estrada João Fera e os demais músicos de apoio, demonstram tanta alegria e satisfação ao tocarem juntos, aliado com a forte química que os une, e com a coleção de hits e excelentes músicas, que ao espectador só resta se deliciar.
Depois de pouco mais de uma hora de apresentação, fecham com "Loirinha Bombril". É claro que tinha mais, e Herbert volta sozinho pra começar a bela "Aonde Quer Que Eu vá". Já com todos no palco, tocam seu primeiro sucesso "Vital e Sua Moto", que foi precedida com a Intro de "Don't Stand So Close To Me" do The Police (o que pouca gente notou) e ainda contou com citações de "Every Breath You Take".
A surpresa veio no final, quando Herbert Vianna convidou ao palco os vocalista Bruno Gouveia e Philippe Seabra (respectivamente do Biquini Cavadão e da Plebe Rude) para cantarem "Que País é Este?". Um final apoteótico para um grande show.
Com um intervalo de pouco mais de meia hora, vieram os cariocas do Biquini Cavadão. Eles tiveram seu auge na metade dos Anos 80, recebendo bençãos de Herber Vianna (que batizou a banda) e de Renato Russo que cantou em "Múmias", presente no álbum de estréia "Cidades em Torrente" de 1986. Conseguiram sucesso comercial, mas acabaram ficando numa espécie de segundo escalão, num nível abaixo das consagradíssimas Legião Urbana, Titâs, Paralamas, Barão Vermelho, e Ira!.
Na década seguinte, com o disco "Descivilização" emplacaram 4 músicas nas rádios, e chegaram a tocar no Hollywood Rock.
Na última década ficaram fora da mídia, mas nunca pararam, e chegaram a gravar dois álbuns de covers de sucessos do Rock Nacional oitentista.
Foi o show mais animado da noite, com o vocalista Bruno empolgadíssimo e fazendo de tudo para eletrizar a galera: dançar de forma desengonçada, pular como louco, puxar coros e coreografias, culminando com um mosh que resultou num passeio por toda fundição nos braços do povo.
Justiça seja feita, Bruno não é apenas um animador ou mestre de cerimônias, o cara tem boa voz e canta muito bem. Aliás, ele era o melhor vocalista dos três shows.
Abrindo com "Tédio", seu primeiro megahit (que muita gente jura que é do MR Catra...), eles já agradaram em cheio. Na sequência em "No Mundo da Lua", como de costume, Bruno puxou um sujeito da plateia para dividir com eles os vocais desse verdadeiro hino dos adolescentes da década de 80.
Para agitar ainda mais, utilizaram o trunfo das covers de seus contemporâneos Ultraje à Rigor, Nenhum de Nós e Uns E Outros.
O Biquini também teve seus sucessos radiofônicos fora dos anos 80: "Dani", "Impossível", "Vento Ventania" e "Janaína" são provas disso, todas presentes no setlist. E ainda rolaram novidades, algumas do novíssimo CD "Roda Gigante", que vendido a R$10,00 na Fundição, teve suas cópias esgotadas rapidamente.
O momento "lágrimas nos olhos" veio com "Timidez". Quando foi lançada, todo mundo que tinha entre 10 e 20 anos de idade acreditava que a letra dessa canção era sobre a sua própria vida. Por isso, vi muita gente chorando, ou cantando de olhos fechados.
Já com todos de volta ao palco encerraram com "Zé Ninguém", emendada com "Brasil" de Cazuza, ambas muito bem apropriadas para o atual clima poliítico em nosso país.
A Plebe Rude sempre foi uma das bandas mais engajadas do Rock nacional, e suas letras sempre refletiram o descontentamento com a política e com os problemas sociais desde os tempos da Ditadura. Mas é impressionante como essas mesmas canções são tão atuais, e parecem escritas sob a ótica da realidade em que vivemos agora, que infelizmente não mudou muito. Assim "Plebiscito", lançada originalmente em 1988, tem muito mais pra "falar" pra nossa juventude de 2013, do que qualquer música do repertório do NX Zero, ou qualquer um das novas pseudo bandas de Rock.
Philippe Seabra lidera e despeja tapas na cara dos políticos nas clássicas "Censura", "Brasília". Quem originalmente dividia os vocais com Saebra era Jander Bilaphra, que foi substituído desde 2003 por Clemente, que ainda também integra Os Inocentes, clássica banda Punk de São Paulo. Em virtude da ida de Andre X para os Estados Unidos em 2012, para fazer um mestrado, a Plebe vem tocando com Fred Ribeiro no baixo. E completando a formação: Marcelo Capucci na bateria desde 2011.
Clemente sempre aparece cheio de energia e atitude, e por alguns momentos larga a guitarra para comandar a massa em "Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)" e "Sexo e Karatê", que provoca a formação de algumas rodinhas de porrada. Entre "Proteção", Clemente canta "Pátria Amada", a música mais conhecida dos Inocentes.
A cozinha formada por Fred e Marcelo apesar do pouco tempo junta, mostra boa química e entrosamento.
Seabra é um guitarrista de pegada, que se quisesse poderia ser um verdadeiro guitar hero, pois seus solos são bem bacanas. Mas nitidamente essa não é a sua intenção e muito menos a sua praia.
O público já era bem menor, porque a Plebe começou a tocar depois das 3 da manhã, portanto só ficou quem se amarrava muito, ou quem estava com muita saudade. No meu caso os motivos eram ambos, pois adoro a Plebe desde o lançamento de "O Concreto Já Rachou" (1986). Eu tinha uma cópia numa fitinha K7 que era uma das que mais escutava em meu walkman.
É... sou desse tempo! Graças a Deus!
SETLIST:
Show do Paralamas do Sucesso:
1- Vulcão Dub
2- Alagados
3- Patrulha Noturna
4- Cinema Mudo
5- Ska
6- Selvagem
7- Whole Lotta Love / O Calibre
8- Mensagem de Amor
9- Cuide Bem do Seu Amor
10- Romance Ideal
11- Meu Erro
12- Óculos
13- Lanterna dos Afogados
14- Ela Disse Adeus
15- Você / Gostava Tanto de Você
16- Melô do Marinheiro / Marinheiro Dub
17- Uma Brasileira
18- O Beco
19- Loirinha Bombril
Bis:
20- Aonde Quer Que Eu Vá
21- Vital e Sua Moto
22- Que País é Este?
Show do Biquini Cavadão:
1- Tédio
2- No Mundo da Lua
3- Inútil
4- Astronauta de Mármore
5- Carta aos Missionários
6- Amanhã É Outro Dia
7- Entre Beijos e Mais Beijos
8- Dani
9- Impossível
10- Múmias
11- Vento Ventania
12- Roda Gigante
13- Janaína
14- Quanto Tempo Demora um Mês
15- Chove Chuva
16- Timidez
17- Medley Rock (Misirlou / Satisfaction / Song 2 / Smoke On The Water / Panther Pink / Smells Like Teen Spirit / Back In Black / Enter Sandman / Sweet Child O'Mine
Bis:
18- Zé Ninguém / Brasil
Show da Plebe Rude:
1- Plebiscito
2- O Que Se Faz
3- Censura
4- Brasília
5- Minha Renda
6- Este Ano
7- Luzes
8- A Ida
9- Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)
10- Sexo e Karatê
11- A Serra
12- Proteção
13- Pátria Amada (incidentais: Selvagem / Desordem / Faroeste Caboclo)
14-Proteção (Reprise)
Bis:
15- Até Quando Esperar
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