“Milton Nascimento – Nada será como antes – O Musical” é o novo espetáculo da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho. Uma verdadeira celebração aos 50 anos da obra de um dos mais importantes músicos do mundo, o grande Milton Nascimento.
Com o elenco formado por 14 atores-cantores, muitos provenientes do excelente "Beatles num Céu de Diamantes", a peça faz tributo a maravilhosa obra de Milton, usando várias de suas principais canções, ao longo de 90 minutos.
Todo o elenco canta muito bem: Claudio Lins (filho de Ivan Lins), Marya Bravo (filha de Zé Rodrix), Délia Fischer, Estrela Blanco, Jonas Hammar, Jules Vandystadt, Lui Coimbra, Pedro Aune, Pedro Sol, Sergio Dalcin, Whatson Cardozo e Wladimir Pinheiro. Mas Tatih Kohler, e principalmente Cassia Raquel (vinda do programa Ídolos) matam a pau. Com afinação, emoção no canto e vozes belíssimas as duas se destacam.
Tatih Kohler chega a aparecer de topless, como uma sereia na interpretação de "Milagre dos Peixes". Mas a cena é tão bonita e natural que sua voz chama mais atenção do que os seios nus.
Os arranjos ficam a cargo de Délia Fischer, que os mantém bem próximos aos originais. Ao contrário do musical dos Beatles, todos os músicos cantam, e todos os cantores tocam algum tipo de instrumento em determinado momento: piano, violão, guitarra, percussão, baixo, cello, acordeão e percussão. Cassia Raquel chega a tirar onda na bateria.
Já os arranjos vocais criados e dirigidos por Jules Vandystadt são o ponto alto. Os números são cantados de forma individual, em dupla, em trio. E impressionam mesmo quando vêm como coro de várias vozes.O cenário remete a uma tradicional casa mineira, graças a cenografia de Rogério Falcão, auxiliado pelos figurinos de Möeller que levam a platéia para um ambiente bucólico e ao mesmo tempo tão familiar de fazenda, de interior, de roça, talvez o lugar que sempre esteve dentro de cada um de nós.
O repertório é uma seleção de quarenta e oito músicas que são divididas em quatro atos, separados em estações do ano. As mais solares como "Bola de Meia, Bola de Gude", "Aqui é o País do Futebol", compõem o verão; "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" e "Nuvem Cigana" de Lô Borges, e "A Cigarra" representam à primavera. A densidade emotiva de "Caçador de Mim" (de autoria de Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá, mas que passou a ser de Milton a partir do momento que ele a cantou), "Cais", e "Encontros e Despedidas" trazem o outono; o inverno vem com "Nada Será Como Antes", "O que Foi Feito Devera" e "Canto Latino".
Assim como "Beatles num Céu de Diamantes", ‘Milton Nascimento: nada será como antes — O musical” não conta uma história e não tem diálogos. O nome de Milton Nascimento se quer é citado. Esse formato é diferente dos tradicionais musicais como os da Broadway, e muito menos tem a ver com o Teatro de revista. Também não é um show de covers. Tentando explicar, trata-se de um espetáculo onde a música é a atração e o centro de tudo, e a perfomance e cada canção são o próprio enredo.
A música que mais gostei é exatamente um número solo de Cassia Raquel, que com ajuda de um coro afinadíssimo assume a responsabilidade de atingir os agudos de "Cantiga de Caicó", belíssima adaptação de Milton para canção que Heitor Villa-Lobos criou inspirado no folclore brasileiro.
“Milton Nascimento - Nada será como antes” é mais uma bola certeira de Möller e Botelho, e que dessa vez ainda celebra um artista genuinamente brasileiro.
Espetáculos como esse elevam o patamar das produções nacionais. Pois trazem o capricho em cada detalhe, mesmo sem utilizar de alta tecnologia ou efeitos mirabolantes.
As canções de Milton Nascimento fazem parte da trilha sonora da minha vida e da minha família. E acredito que também faça parte do cotidiano de muitos brasileiros. Por isso é quase impossível sair do teatro sem ter sentido alguma emoção. A temática, as letras, as belíssimas melodias e harmonias são mostradas de uma forma tão bonita com arranjos perfeitos e vozes afinadas, que que tocam a alma de forma profunda. A reação da platéia só pode ser uma: aplaudir de pé, e com esntusiasmo.
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