Por tudo que Renato representou e ainda representa, a responsa de fazer um filme sobre a sua vida também é enorme. O diretor Antonio Carlos da Fontoura e o roteirista Marcos Bernstein se saem bem ao mostrar como o precoce professor de Inglês Renato Manfredini Júnior, se transformou em Renato Russo antes de alcançar sucesso nacional e virar o porta-voz da Juventude brasileira.
De forma simples e sem ousadias o filme foca na adolescência de Renato, começando no sofrimento causado pela rara doença óssea epifisiólise, que o levou a ficar 6 meses sem poder andar, o que o levou às leituras de filósofos existencialistas enquanto convalescia, e ao mesmo tempo descobrir os grandes ídolos do Rock internacional (Beatles, Stones, The Doors, Led Zeppelin, Bowie), e os compositores do Clube da Esquina como Lô Borges e Beto Guedes.
Tendo como pano de fundo a Brasília da virada dos anos 1970 para 1980, a capital do poder onde os filhos da revolução, em sua maioria de classe média alta, tentando espantar o tédio fazendo poesia e música, e sobre a influência do Punk Rock britânico, acabaram formando bandas fundamentais para o Rock brasileiro: Aborto Elétrico, Plebe Rude, Detrito Federal, Capital Inicial e Legião Urbana.
Os críticos dirão que faltou profundidade principalmente ao retratar as primeiras aventuras sexuais, e a dificuldade de expressar os dilemas e a homessexualidade para pais conservadores. Até concordo que o tema poderia ser mais bem explorado, sobretudo porque os atores que interpretam os pais de Renato, Marcos Breda e Sandra Corveloni (vencedora do prêmio de melhor atriz em Cannes por “Linha de Passe”), são excelentes e foram muito pouco aproveitados no longa.
Mas se o que interessa mesmo é música, o processo de formação do lendário Aborto Elétrico (embrião das bandas Legião Urbana e Capital Inicial) é bem destacado no filme, que retrata o surgimento de canções que virariam clássicos como "Que País É Este", "Tédio (Com um T Bem Grande Pra Você)", "Fátima", "Eu Sei", "Faroeste Caboclo", "Veraneio Vascaína", "Geração Coca-Cola", "Eduardo e Mônica", "Ainda é Cedo", entre outras.
A fase "Trovador Solitário" (onde Renato desiste de tocar em bandas e passa a se apresentar sozinho com seu violão) e o começo da Legião é documentado em situações pitorescas, como no show em Patos de Minas, quando Russo antes da fama canta suas letras de protesto para um público cheio de militares e políticos, em plena ditadura militar. Os mais atentos perceberão que Philippe Seabra, membro fundador da Plebe Rude, faz uma ponta como o prefeito da cidade.
Um grande ponto positivo é que os atores tocam e cantam de verdade. Tudo é tão real que os erros ou desafinações não são corrigidos, escondidos ou maquiados. O resultado é um grande teor de veracidade que faz o espectador entrar no clima da época.
O maior trunfo de "Somos Tão Jovens" é o ator Thiago Mendonça, de início, parece um pouco forçado e preso aos cacoetes de Renato Russo, mas aos poucos e atinge o tom perfeito, em uma interpretação convincente, comovente e impressionante. E também se sai muito bem cantando. Ao contrário de Renato, Thiago é um rapaz bonito, mas sua entrega ao papel é tão intensa que parece modificá-lo até fisicamente, num daqueles momentos raros em que o personagem é personificado na pele do ator.
O protagonista tem seu trabalho ajudado pelo ótimo desempenho do restante do elenco jovem, como a ótima Laila Zaid no papel de Ana Cláudia (personagem fictícia, que representa duas ou três namoradinhas de adolescência de Renato) e Bruno Torres como seu companheiro de banda e antagonista Fê Lemos. Sem contar com ator Edu Moraes que faz uma divertida e caricata recriação do jovem Herbert Vianna.
"Somos Tão Jovens" é um filme leve, que sem mergulhar no drama e fugindo do melodrama, faz com que entremos no clima da nostalgia do tempo em que éramos adolescentes, independentemente em qual época você viveu a sua. Eu que vivi a minha tendo várias dessas canções como trilha sonora, me emocionei em vários momentos. Portanto não perca tempo, pode ir sem medo ao cinema, de preferência com uma boa companhia. É diversão garantida.
Como aquecimento, assita ao Trailer:
Excelente crítica.
ResponderExcluirCompartilho da sua opinião. Achei o Herbert do Edu sensacional, e o Thiago como o Renato me lembrou o Daniel de Oliveira como Cazuza. Simplesmente perfeitos.
Minha única birra com o filme é em relação ao final, que deixou um gostinho de "parte 2".
Bjo, bjo.