Fiquei sabendo da existência do Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras, desde a sua segunda edição em 2004. Tinha visitado a cidade na semana anterior ao evento para fazer a prova de um concurso, e vi cartazes que divulgavam as atrações. Fiquei empolgado pra voltar pra conferir, mas não consegui.
A cada ano que passava, eu ia perdendo o Festival por razões diferentes: falta de grana e/ou planejamento. Ano passado foi minha viagem a Paris que impediu. Mas estava decidido: em 2012 nada iria atrapalhar, e eu estarei na décima edição do Festival.
Pousada reservada, malas feitas, tudo organizado, na quarta-feira a noite, fui pegar a Mell no trabalho, e partimos rumo a Rio das Ostras. Foi uma longa viagem... Saímos da Barra da Tijuca às 18:00, e chegamos no palco montado na Praia da Costa Azul às 23 30h. Pegamos tudo engarrafado: metade da Linha Amarela, Avenida Brazil, Ponte Rio-Niterói e Manilha; a partir daí o trânsito estava bom.
Ao chegarmos, fiquei impressionado com a estrutura montada. Palco grande, com dois telões, e som perfeito. O povo assistia aos shows sentado em cadeiras oferecidas pelo evento, ou trazidas de casa. O palco principal da Costa Azul foi montado em um complexo com Centro Cultural, barraca de venda de CDs, lojinhas de artesanato, e Praça de Alimentação.O motivo de encarar todo esse trânsito pesado era não perder a apresentação de Helio Delmiro, que eu considero o melhor guitarrista do Brasil, e um dos maiores músicos do mundo. Graças a Deus, conseguimos chegar momentos antes dele subir ao palco. Já haviam se apresentado a Orquestra Kuarup e Banda 190 (formada por músicos que também são policiais militares).
Valeu muito a pena, mas deu também uma pontinha de decepção, pois Delmiro não tocou guitarra, apenas violão. Acompanhado de um trio formado por baixo, piano e bateria, Hélio desfilou seu belíssimo fraseado característico, em canções como "Ponteio" de Edu Lobo, "O Morro Não Tem Vez" de Tom Jobim, e "Nanã" de Moacir Santos. Também executou músicas inéditas de sua autoria, como "Ostra cismo", em homenagem a Rio das Ostras; e "Samba do Stent", que Delmiro escreveu no ano passado após ter se submetido a uma cirúrgia cardíaca.
A grande novidade foi vê-lo cantado, e bem, a bela canção "Ilusão à Toa" de Johnny Alf. Antes ele anunciou: "Vou fazer agora uma coisa que não costumo fazer. Vou cantar essa linda composição de Johnny Alf. Eu não canto bem, mas meu consolo é que Baden Powell cantava, Vinícius De Moraes também cantava. Por que eu também não posso? E tem um detalhe importante, quando eu canto, sou acompanhado no violão pelo Helio Delmiro. Me dei bem nessa, não é verdade?", arrancado gargalhadas da platéia.
Delmiro não tem aquela onda de exibicionismo, o tecladista André Barata chegou a fazer mais solos do que ele. Coisas de músico mais que consagrado que sabe que já fez muito pela música, já tem seu nome marcado, e não precisa provar mais nada pra ninguém.
Quem fechou a noite foi a Lenda viva do Blues e do Rock brasileiro: Celso Blues Boy!
O setlist foi basicamente o mesmo do show que assisti em dezembro do ano passado no Circo Voador, com os clássicos: "Tempos Dificies", "Brilho da Noite", "Marginal", "Onze Horas da Manhã", "Damas da Noite", "Sempre Brilhará", "Fumando na Escuridão" e "Amor Vazio". Do seu álbum mais recente, a impagável "Um Monte de Cerveja".
A banda também foi praticamente a mesma: Roberto Ly (baixo), Márcio Saraiva (bateria e voz), Jefferson Gonçalves (gaita). A mudança foi a troca do guitarrista Marcos Amorim por Saulo.
Na hora da apresentação de Celso, o público estava muito mais animado, como era de se esperar. Muitos ficaram de pé, pulando e gritando em coro: "Puta que pariu! É o melhor guitarrista do Brasil!".
A guitarra Blues Boy continua afiadíssima, mas a sua voz está ainda mais rouca. Parece que seu problema na garganta piorou, a ponto do baterista Marcio Saraiva cantar vários trechos. Além disso, Celso me pareceu estar abatido e com dificuldade de andar. Espero e rezo para que não seja nada sério.
Apesar de tudo isso, foi um showzaço, que ainda teve no Bis a execução do "Hino Brasileiro" e o clássico dos clássicos "Aumenta que Isso Aí é Rock and Roll", que contou com a participação especial do grande guitarrista Big Joe Manfra, que esse ano foi participou da produção do Festival.
Depois do show comprei o CD "Por Um Monte de Cerveja", e partimos para a Praia da Tartaruga, aonde se localiza a pousada que estávamos hospedados. Fomos dormir o sono dos justos, pois ainda tínhamos mais quatro longos dias de shows incríveis e boa música pela frente, em quatro palcos espalhados pela cidade.
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