No mesmo mês de dezembro, mas em 2008, fui até Campo Grande pra presenciar pela primeira vez ao vivo, esse fenômeno da guitarra, chamado Stanley Jordan. Naquela época custei a acreditar que o meu guitarrista de jazz predileto estaria fazendo shows nas Lonas Culturais. Por isso não pensei duas vezes em ir pra "Bigfield" na cara e na coragem, sozinho, sem mapa ou GPS.
Mas esse ano foi melhor ainda... Stanley Jordan Live In Jaca City!!!
A Lona não estava lotada, mas um bom público aguardava ansioso o início da presentação. Por volta das 22:15h, Stanley entra tímido e sozinho no palco, e começa a tocar um dos maiores clássicos de Hendrix: "Little Wing"; a platéia demora a reconhecer a música, mas ao perceber do que se tratava, aplaudiu com vontade. Na sequência, ele manda uma bela versão para "El Condor Pasa" da dupla Simon & Garfunkel. Emendou com "Eleanor Rigby" dos Beatles, que já faz parte do seu repertório a muitos anos.
Ao microfone e em bom português ele chama seus colegas: "Senhoras e senhores no palco agora: Ivan Conti "Mamão" na bateria e Dudu Lima no baixo".
Os dois músicos brasileiros foram os mesmos que o acompanharam no ano passado, e são verdadeiros monstros em seus intrumentos, estando entre os melhores do mundo.
Mamão, com seu completo domínio na bateria e nos ritmos brasileiros, ficou internacionalmente conhecido por fazer parte do Azymuth, trio formado na década de 70, talvez o grupo de música instrumental mais bem sucedido e famoso do Brasil. Além disso já gravou e se apresentou com mestres da MPB como Elis Regina, Gal Costa, Erasmo e Roberto Carlos, Eumir Deodato, Rita Lee, Raul Seixas, entre outros. Tocar com feras do jazz internacional também não é novidade, afinal já fez parte da banda de nomes como Ray Brown, Dizzy Gillespie e Milt Jackson.
Dudu Lima é um contra-baixista, compositor e arranjador mineiro de Juiz de Fora; virtuoso de técnica apurada, cheio de swing, perfieto nos slaps, e capaz de fazer no baixo a técnica de tapping que deu fama a Stanley Jordan. O guitarrista, inclusive participou do excelente CD/DVD "Ouro de Minas", lançado pelo baixista em 2008. Dudu já tocou ao lado de João Bosco, e já foi elogiado publicamente por Milton Nascimento, que após ver sua apresentação em Búzios declarou aos jornalistas: "Quase caí duro, de tão emocionado e surpreso com a sua qualidade como músico".
Como mostra a vídeo abaixo, a química entre os três é impressionante:
Um dos motivos das visitas frequentes de Stanley ao Brasil é a sua grande paixão pela música brasileira; por isso o repertório do show estava recheado de canções de compositores verde-amarelo.
O Mestre Tom Jobim foi lembrado na belíssima "Insensatez", um dos pontos altos da noite. Juntos tocaram "Regina" composta por Dudu Lima, que conta na gravação original com a guitarra de Jordan.
Os músicos mostravam fluência e vários estilos: bossa nova, samba, jazz, fusion e rock; chegando a ter algumas passagens bem pesadas, no limiar do Heavy metal.
Stanley ficou novamente sozinho, e desfilou todo seu estilo e técnica, até mesmo em uma peça clássica, que a minha ignorância não permitiu que eu reconhecesse se era Bach, Beethoven ou Mozart.
É verdade que Stanley Jordan revolucionou a técnica de "tapping" (utilizar uma ou as duas mãos para "martelar" - tap - notas na escala) que foi popularizada por Eddie Van Halen; ele inventou a "two-handed tapping", que utiliza oito ou nove dedos, com uma mão para fazer a base e outra para solar. Tirando o fato de que visualmente é muito impressionante, seus solos são sempre originais, bem executados, tecnicamente perfeitos e bom de se ouvir.
Dudu Lima vai ao microfone e avisa, que pela primeira vez em público, Stanley Jordan vai tocar contra-baixo, num instrumento que ganhou de um luthier pernambucano, que o fez especialmente pra ele. Foi bacana vê-lo usar a mesma técnica no baixo, e presenciar um duelo de arrepiar entre ele e Dudu, enquanto Mamão quebrava tudo na batera.
Depois de uma jam de quinze minutos, os três se despedem, voltando claro para um Bis fenomenal com direito a solos de cada um. Alguns dos presentes acreditavam que Armandinho participaria do show, já que na mesma semana ele fez duas apresentações com Stanley Jordan em Ipanema; infelizmente não houve essa participação em Jacarepaguá. Mas no fim das contas, a noite foi maravilhosa.
Ao tentar falar com Stanley nos bastidores, descobri o motivo do show ter sido um pouco mais curto do que o normal, e do fato do guitarrista usar casaco comprido naquele calorão: Stanley jordan estava doente, com 39 C de febre, e não iria receber os fãs. Mesmo assim consegui autográfos no CD e DVD.
Meu amigo Leo soltou o seguinte comentário: "Se doente ele toca desse jeito, imagina quando ele está com saúde..."
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