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segunda-feira, 24 de maio de 2010

20 de Maio de 2010 - JOHNNY WINTER NO CANECÃO


Depois do show ter sido cancelado, por causa do fechamento do Canecão pela Justiça, que lacrou e obrigou a devolução do imóvel à UFRJ, eu já tinha aceitado a idéia de perder a apresentação do Johnny Winter.
Aí já estava rolando aquela dor de corno, de que depois de AC/DC, Aerosmith e ZZTop, por mais uma vez o Rio iria papar mosca.
Mas nas vésperas da data marcada, ouço a notícia pelo rádio que o show estava confirmado: Yeah!!!
No dia do show, estacionei no Rio Sul, e fomos comprar os ingressos às 19:00 , sem fila, e com tranquilidade para escolher o setor. Vi impresso no ticket que haveria abertura com "Christovam, Carlini & Vassa", me empolguei na possibilidade de serem André Christovam e Luíz Carlini, dois dos maiores e mais importantes guitarristas brasileiros. Perguntei à moça da bilheteria que horas seria o show de abertura, ela respondeu que não sabia, e que a atração principal estava marcada para as 21:30h.
Jantamos na pressa, pra chegar cedo e poder conferir o primeiro show.
90% do público era de homens, na faixa etária entre 40 e 60 anos, uma galera cascuda, fissurada no Blues e no Rock Clássico das décadas de 60 e 70, e que sabia da importância e do privilégio de estar presente naquela primeira apresentação no Rio de Janeiro de uma verdadeira lenda do blues e do Rock.
Por volta das 21:40, Andre Christovam com sua nova banda, abre a noite, com um blues instrumental cheio de feeling, agradece aos aplausos, apresenta os músicos e fala: "Fico feliz e honrado, que em dia de jogo do Flamengo vocês encheram a casa", gerando um grito de "Mengo!", seguida por uma sonora vaia, ao ver que começaria a surgir um clima ruim pela rivalidade de torcidas, André se explica dizendo que nos tempos de hoje, ele fica feliz que tendo uma coisa de graça em casa, que as pessoas se disponham a sair e se expor numa quinta a noite, pagando pra curtir boa música; com isso ele conquistou a gregos e troianos.
Servindo como mestre de cerimônias, ele convida Álvaro Vassa que entrou dando um show de slide. Como eu que eu não conhecia esse cara antes? Pra completar o trio, chega Luís Carlini, que formou a antológica banda Tutti-frutti, que acompanhava Rita Lee, quando esta saiu dos Mutantes. Carlini tocou o clássico "Sleepwalk" numa Lap Steel, e a dedicou ao falecido Bebeco Garcia, dizendo: "...dedico a ele essa música, perdemos um soldado, mas por ele temos que continuar firme na batalha...". Na sequência ele toca "Agora Sá Falta Você", uma das suas parcerias com Rita. Infelizmente a guitarra de Carlini estava baixa e abafada, ao contrário da dos outros dois guitarristas, que estavam com som e volume perfeitos. Finalizaram com "Little Wing" de Hendrix, com dada um fazendo um solo mais bonito que o outro. A platéia pedia bis, coisa raríssima em se tratando de shows de abertura, mas o pedido não foi atendido, provavelmente por questões de horário.

A banda de Johnny formada por Scott Spray (baixo), Vito Liuzzi (bateria) e Paul Nelson (guitarra) entra no palco e começa a tocar. Paul mostra sua técnica, com belos solos; ele é amigo de Winter, e é o cara que atualmente toma conta de sua carreira. Eis que surge a frágil e curvada figura do albino, que ligeiramente atravessa o palco e senta na cadeira aonde recebe sua guitarra Erlewine Lazer preta, o público vai a loucura.
Johnny Winter é irmão de outra lenda, o multi-intrumentista Edgar Winter. Johnny é da linhagem dos grandes guitarristas de Blues do texas, a mesma de Albert Collins, dos irmãos Jimmy e Stevie Ray Vaughan e de Billy Gibbons (ZZ Top). Atualmente com 66 anos, está longe da vitalidade, disposição e saúde, dos seus tempos áureos nos anos 60 e 70, quando chegou a tocar no festival de Woodstock, e tinha um contrato milhonário com a com a Columbia Records. Mergulhou fundo no vício da heroína, tornado-se dependente até a década de 90, quando começou a usar antidepressivos e metadona, contra a dependência. Também era alcoólotra, e pra piorar tinha um empresário inescrupuloso que o roubava, e é acusado de dar a Winter doses cavalares de antidepressivos para deixá-lo sempre dopado, pra poder passar a perna de forma mais fácil.

Isso tudo detonou a sua saúde, chegou a pesar 40 kg. Só a partir de 2003, com ajuda de amigos como Paul Nelson, é que Winter começou a voltar a ativa, tocando em palcos pequenos. Nitidamente se percebe a sua fragilidade física, atualmente com uns 60 kg, corpo totalmente curvado, só consegue abrir um dos olhos, não conseguindo se aguentar em pé, por isso tocando o show inteiro sentado.
Mas as mãos do velhinho ainda fazem estrago, e dos bons! Mesmo errando muitas notas, ele continua arrasador, com uma técnica visceral e explosiva. Toca guitarra como se fosse banjo, usando uma dedeira no polegar direito e dedilhando as cordas com os outros dedos, ele consegue um efeito muito foda, dando dinamismo, e a impressão de se estar ouvindo mais de uma guitarra. Seus solos fogem do lugar comum, pois são curtos e com grande variação de escalas, alternando graves e agudos, e misturando solos com a base. Realmente de deixar o queixo cair.
Com muitos clássicos como "Bony Morone", "Hello Little School Girl", "Miss Ann", "It’s All Over Now", "Black Jack", "I’m Torn Down", ele ainda homenagiou Jimi Hendrix, com uma versão matadora de "Red House".
Por falar em cover, senti falta de duas músicas que marcaram muito a sua carreira: as regravações de "Jumpin' Jack Flash" (dos Rolling Stones) e "Johnny B. Goode" de Chuck Berry (que tocou na cidade na semana passada, e eu perdi...).
Johnny Winter só trocou de guitarra no Bis, quando finalmente pegou sua famosa Gibson Firebird V 1963, pra dar uma aula de slide guitar, nessa hora confesso que fiquei arrepiado. Encerrou com o clássico de Bob Dylan "Highway 61 Revisited", deixando o palco com ajuda de uma roadie. A platéia extasiada pediu mais um Bis, mas tivemos que nos contentar com o fim. A apresentação foi curta, mas duvido que alguém tenha saído desapontado.
Agradecemos aos Deuses do Blues e do Rock, por permitir que Johnny ainda esteja vivo e rasgando a nossa alma, com seus solos.

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